A médica Carolina Fernandes Biscaia, de Pato Branco, cidade no sudoeste do Paraná, foi indiciada pela Polícia Civil do Paraná (PC-PR) por estelionato, falsificação de documentos e lesão corporal. Pacientes acusam a médica de emitir falsos laudos de câncer de pele e indicar cirurgias desnecessárias.
Biscaia começou a ser investigada em março, quando pacientes suspeitaram de procedimentos cirúrgicos solicitados pela médica. Pelo menos 30 pessoas formalizaram denúncia à polícia.
O delegado Helder Lauria, responsável pela investigação, afirmou que a conclusão do inquérito expôs como a médica enganava os pacientes. Conforme o delegado, a investigação revelou que Biscaia agiu sozinha.
"Todas as vítimas relataram uma forte pressão psicológica feita pela médica durante a consulta para que fossem realizados os procedimentos tão logo ali no consultório, logo depois que ela dava o diagnóstico", afirmou o delegado.
O caso foi encaminhado ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), que ofereceu denúncia contra a médica, referente a 38 vítimas, pelos crimes de: lesão corporal, estelionato, falsidade ideológica e exercer atividade ou anunciar que a exerce sem os requisitos necessários.
Agora, cabe à Justiça decidir se aceita a denúncia.
Em nota, o advogado Valmor Antonio Weissheimer, que atua na defesa da médica, afirmou:
"A minha cliente sequer foi intimada, para exercer o direito ao contraditório; A Defesa encontra-se preparada com todas as teses defensivas, visando o esclarecimento dos fatos", diz trecho da nota.
O que a investigação descobriu?
Conforme o delegado, as investigações identificaram que a médica examinava pintas e manchas dos pacientes e afirmava que algumas poderiam ser cancerígenas. Ela, então, fazia retirada de material e encaminhava para laboratório.
De acordo com a polícia, na reconsulta, ela apresentava ao paciente um laudo falso com diagnóstico de câncer de pele. O delegado disse que a falsificação era feita com máquina de xerox, no próprio consultório.
Além disso, a investigação apurou que documentos falsos eram colocados sobre os verdadeiros e, com a ajuda do equipamento, eram criadas novas versões de laudos.
Em março deste ano, o Conselho Regional de Medicina de Paraná (CRM-PR) puniu a médica com a chamada "censura pública" por anunciar ter especialidades que não possui.
Desde maio, Interdição Cautelar Total de 180 dias determinada pelo CRM-PR e aprovada pelo Conselho Federal de Medicina impede a médica de exercer a profissão.
Em consulta ao site do conselho, através dos números de registro profissional da médica no Paraná e em São Paulo, não são encontradas especialidades atribuídas à Biscaia. Nas redes sociais, a médica afirmava ser dermatologista.
Questionado pelo g1 nesta terça-feira (29), o CRM-PR disse ter realizado todos os procedimentos investigativos e que os processos tramitam sob sigilo ético profissional, previsto no código de ética.
"Caso seja identificada alguma irregularidade, e que seja comprovada a violação da ética profissional prevista no Artigo 22 da Lei n° 3268/57, as punições vão desde advertência até a cassação do exercício profissional", afirmou a organização.
Um áudio obtido com exclusividade pelo g1 Paraná em março deste ano, e que consta no inquérito encaminhado à Justiça, mostra o momento em que a médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, comemorou a retirada de um falso melanoma - tipo de câncer de pele mais agressivo - de uma paciente. A conversa foi gravada pela vítima em janeiro de 2024.
"Não sei se você é católica ou não, mas passa na igreja agradece a Deus, tem coisas assim que a gente tem que agradecer, sabe? Tem que agradecer, porque, como eu disse, a chance de pegar assim (melanoma), nesse estágio de que a gente só amplia a margem e está curada, é uma dádiva [...]. Não precisa se preocupar com metástase", afirmou a médica.
No início da investigação, o delegado explicou que o áudio da consulta "ajuda a comprovar o alegado pela vítima, pois confirma as palavras ditas pela médica".
À polícia, vítima contou que fez a gravação por precaução, pensando em repassar o material aos familiares, uma vez que ela teve melanoma em 2013 e este se tornou um tópico de preocupação.
A vítima contou que descobriu o falso diagnóstico após encontrar inconsistências no laudo apresentado por Carolina, comparando com o documento retirado por ela diretamente no laboratório.
Depois da descoberta, a gravação passou a ser prova para investigação.
A pedido da médica, ela passou pelo procedimento chamado de ampliação de margens. No caso dela, a falsa doença foi identificada na perna esquerda. A vítima gastou mais de R$ 5 mil e leva uma cicatriz desnecessária na perna.
Fonte: G1 Paraná / Foto: Redes Sociais